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28/08/2017

Tu nunca hás-de entender o tamanho das noites 
em que gastei tudo o que havia 
por dentro dos meus olhos 
os rios que de ti desaguaram sempre 
nas minhas veias
eu não sabia 
ou talvez já o tivesse esquecido 
como podem ser mortíferas as cinzas 
das palavras que um dia tiveram asas
e ainda mais mortíferas as garras 
que nos destroem com os pequenos medos quotidianos 
a que não podemos escapar 
porque as sílabas da paixão são sempre 
os primeiros objectos a serem retirados do quarto 
para que tudo regresse à prateleira certa 
e de manhã a poeira nos vista 
tranquilamente 
como um hábito
e foi por isso que nessas noites morri muitas vezes 
enquanto as secretas palavras de adeus alastravam 
pela foz do teu desejo 
e a minha pele se despia 
vagarosamente 
da tua.
(Alice Vieira)