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08/08/2017

TUDO (Joaquim Pessoa)
Tudo o que me vem às mãos faz parte de ti,
do teu sabor, do teu perfume, da tua teimosia
tão alta como as catedrais onde o vento vai rezar,
esses lugares edificados para o silêncio e para
mais silêncio ainda. E tudo tu és, e sabes, tudo
corre do teu sangue para o meu sangue, palavra
por palavra, palmo a palmo, gota a gota.
A tua beleza ensinou-me a cantar nestes dias
que já pouco sabem de mim, e de ti, e de ambos,
estes dias em que a tristeza entristece mais
entre os beijos e a boca, com a luz movendo-se
em territórios húmidos de sombra. E porque tudo
o que me dizes é tão extraordinário como os
peixes que sobem os rios e gostam de viver
contra a corrente, eu escrevo-te, eu canto-te,
eu quero-te, eu peço que me dês o que o amor
não pôde ou não quis dar-me antes de ti.