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setembro 22, 2024

COMIDA ( Pilar Adón )

 Eu... eu sei. Eu tenho aquele olhar miserável

daquele que sai exigindo carinho pelas portas.
“Ame-me um pouco. Ame-me um pouco…”
Olhos nostálgicos para o carro que parte
e as costas estreitas que param pela última vez para se despedir.

Eu... eu sei. Busco o olhar compreensivo de todas as mães
e às vezes as mãos grandes de cada pai.
O sussurro no telefone que me diz: “está tudo bem”
enquanto a garota com o lenço preto vira e vira
esperando a chegada da paz.
A calma da crescente maré negra.
E sobe à boca da alma que pensava já estar aliviada
mas não. Porque a alma, mesmo que se presuma sucesso,
quando é doloroso e quando tem aspecto de angústia,
sobrevive.

Eu... eu sei. Estou me afogando e não entendo nada.
Deixei que ele pegasse minha mão e me arrastasse até a costa.
“Você verá um milagre”, ele me disse.
E a garota com sapatos pretos com laço
Ele olhou para meu rosto e me mostrou seus dentes de coelho.
"Desculpe. Desculpe. Desculpe." Ele parecia implorar. “Eu não fui. Não fui eu..."

Eu... Agora conto as hastes azuis que estão inseridas
naquele vaso transparente e me pergunto:
(um dois três…)
Por que você faz isso?
(quatro…)