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setembro 12, 2024

CONTOS DO JARDIM ( Sofia Lopes )

 Já ouvimos esta história

Mil vezes, não ouvimos?

Desponto de teu peito,

Límpida e desnuda

Para alentar tua fome

E aquecer teu frio

 

Mas os relatos subtraem

O momento em que desabrocho

E, sempre insensato, rompes

Uma costela — precisa, aguda

Para cravá-la em meu dorso

E tingir-me a tez de rubro

 

(Então jazemos, enredados, mão

Ao pescoço, dentes à pele,

Solo envolto em carmesim

Onde se desfazem os fios

De minha carne —

Logo, sucumbo)


Mas os deuses, sempre ímpios,

Ainda assim me desterram;

Então, deixo os campos

Empíreos — só, à deriva

Para descingir nossos laços

E me livrar de tuas garras


E minhas veias cantam, em tumulto

E alívio, cada vez que percorro

As ruas, pena e espada em punho

E gentil furor em meu seio

Para te lavar de minhas mãos

E te expulsar do meu ventre.