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setembro 03, 2024

NOSTALGIA DE SETEMBRO ( Nuno Júdice )

 Quando vinham as nuvens de setembro, já

os pássaros tinham emigrado para além dos mares,
o campo ficava em longos silêncios
que só a passagem dos rebanhos, a caminho
do matadouro, cortava num tropel que ecoava
ainda, depois da paisagem, com os gritos
do pastor e o ladrar dos cães. Eu gostava dessas nuvens
quando começavam as primeiras chuvas, e podia
ouvir o bater dos pingos na janela, empurrados
pelo vento, e o ruído da água a correr nas goteiras,
e a inundar as valetas, arrastando o lixo
e as memórias do verão. Porém, ainda te vejo,
com o vestido encharcado e os cabelos a escorrerem
água para os ombros, como se não te importasses
com a chuva. Nunca soube quem eras, nem
porque passeavas no campo como se estivesse
um dia de sol. Talvez fosses uma sobrevivente do
verão; e ainda hoje me arrependo de não te
ter seguido, para lá da curva do caminho em que
te perdi de vista, para que esse verão continuasse
comigo, para sempre, através da tua imagem.