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01/03/2025

Lília Tavares, do livro “Nas Mãos A Sede Dos Pássaros”

 Chamam-lhes sonhadoras, inconsequentes,

aventureiras. Sentem-se dissolver na poesia ainda que
escrevam em prosa. A diluição de si nos personagens arrepia.
Fingem alegria quando sonham. Assistimos ao seu
desabamento interior num mar assolado pelo nevoeiro.
Estranham-se aos pedaços.
Entranham-se sem estenderem a mão em busca de
salvamento.
São mulheres múltiplas, revelam-se num ápice.
Escrevem livros duros e ásperos e doces. Oferecem ao
leitor colheradas de mel como se o tivessem tomado
no passado.
São mulheres da interioridade. Anónimas. O que não
se conhece, estranha-se sem desgosto, pensam.
São mulheres que nada têm a perder. Aceitam
desiludir.
Desiludidas, escrevem até conseguirem arrancar das
profundezas o avesso da alegria, as causas mais
inóspitas da revolta, do desânimo, da inquietude.
Elas parecem loucamente incompletas como sylvia
plath. Choram porque leram anna karenina, líquidas
como as memórias que dizem tornar a solidão
habitável. Por que escolhem pieter bruegel para a
capa dos seus livros?