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25/03/2025

VERTENTE ( Sônia Barros )

 Há vozes que vêm para o poema

mas não foram convidadas, surgem
como luz soprada por lábios de um sol improvável,
música inusitada a nascer num jorro que rasga
e fecunda o solo solitário das palavras.
Há verbos que invadem, perfuram o osso
do poema e do poeta — feito o zurrar de um asno,
como em Balthazar, de Bresson — e permanecem
tamanha a correnteza de seu gozo.
Vermeer, Moça com Brinco de Pérola (1665-1666)