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21/12/2016

À MUSA ESTUPRADA ( Dora Incontri )

(Versos Sáficos)

 Na favela, ou presidenta,
No congresso, ou no lar.
Há uma ferida nojenta
Há uma mulher a sangrar!

A mulher torturada,
Depois impedida.
A mulher estuprada,
Depois esquecida.

A mulher excluída,
Se não for recatada.
A mulher ofendida,
Se não for calada.

A mulher minha mãe,
A mulher minha irmã,
A mulher é culpada
Porque ela se expõe.

A mulher sufocada
De vestido na igreja,
De saia comprida,
Na burca escondida.

A mulher violentada,
Estendida na rua,
Porque é despudorada
Porque é puta e está nua!

É sempre a culpada,
É sempre a acusada,
É sempre a julgada,
É sempre a safada!

É sempre a piranha,
Que não se acanha
Nunca é culpa do senhor,
Do macho predador!

Do poder, exilada,
Se honesta, impedida.
Se esbofeteada,
Porque merecida.

É sempre a vadia,
É sempre a que traía!
Mas onde o traidor?
Onde o estuprador?

A mulher que trabalha,
Que sempre batalha,
Que raro se ausenta,
Dos seus que amamenta.

É a mulher que sustenta
Que tudo já aguenta
Por ela que a vida
Se faz e se alenta.

Ó terna guerreira,
Eterna na lida,
Não mais quero à beira,
Calada, escondida!

Não mais de olhos roxos
Não mais ensanguentada
Não mais enlameada
Não mais acuada.

Homens, sois filhos
Sois pais, sois irmãos
Por que não limpais
Enfim vossas mãos?
Por que não partilhais
Iguais condições?
Por que não espalhais
Honestos corações!

Mulheres, não rompamos
Nossas mãos unidas
E sempre as estendamos
Às irmãs mais feridas!

Homens e mulheres,
Um mundo mais igual
O respeito natural
E a liberdade afinal!