Rubras eram as portas rasgadas de par em par
do teu sorriso,
entre negros corvos, ao entardecer das palavras já ditas
porém sempre novas,
Meu amor
e tuas mãos regressando a mim, enlaçando seda
nos meus cabelos de água pura,
caindo caravelas de pérolas pelos meus seios de esperança.
Revejo-te ainda entre as crianças,
rodopiando a "fogueira de todas as vaidades",
como se fosses uma árvore hirta num caos de
tantas vozes.
Ousada era a tua voz, meu amor, meu amante, meu amigo!
e terna, tal como um pintassilgo
porém, fazias redemoinhar ao vento norte, paixões!
Percorre-me a púbis em terras de Abril,
aquelas fervorosas noites em que falavas Liberdade
e me amavas sôfregamente entre o cais da cidade,
ou os longos pinheirais
Infernais eram as tochas das daninhas mãos
que num dia de bréu e horror te levaram de mim
sempre a acenar,
sempre
e eu a ti.
Soube que te mataram,
quando um pequeno rouxinol
me caiu morto no regaço
na manhã seguinte.
Ó meu amor,
que lauta cascata virá agora inundar-me Vida
e escorrer-me pelos seios?
Ó meu grande amor roubado,
que resto viúva de ti
em segredo, sem um anel cravado no dedo
mas com uma aliança cravada no ventre,
tua semente.
Meu amado,
em ti me cesso, por ti me visto.
O teu nome há-de ser nosso filho