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25/05/2025

IDENTIDADE ( Ana Poesia )

 O espelho não me refletia

Mas as colheres prateadas me viam

Eu enxergava mais do que devia

Sabia que as paredes me assistiam

 

Meus braços percorriam o gesso poroso

Eu me deitava no chão gelado

E o teto me olhava choroso

Porque não podia sair dali

 

Ninguém entendia o que eu possuía

Apenas o ar que sussurrava em meu ouvido

Só que na hora da birra, nem ele me queria

São tantas coisas que poderiam ter sido

 

Mas não foram

As fantasias em que eu fugia

Fugiram de mim

E eu entendi que só poderia ser assim

 

Eu fui castigado em um cantinho da escada

E se eu não caísse, eu seria amado

Caso contrário, eu seria punido

E na minha boca, uma fita seria colocada

 

O mal estava feito

O espelho sem reflexo se quebrou

E pouco a pouco, no meu corpo se infiltrou

Agora sou aceito

 

Mas as colheres custam me ver

Sob meu corpo ferido se instalou saudade

Do que era para eu ser

Do que era a minha identidade