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22/05/2025

PRESÍDIO (David Mourão - Ferreira )

 Nem todo o corpo é carne. Não, nem todo

Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco?

E o ventre, inconsistente como o lodo?
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor. Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo.

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono.
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!