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18/02/2017

DIONEIA
(Maria Lúcia Dal Farra)
Com as mãos em concha te acolho,
hóspede almejado,
para deslizares pelas minhas palmas
(meu texto)
rente aos pelos que sedutores te roçam
no antegozo do meu irremissível poço.
Capturadora de alados,
no trajeto em que pouco a pouco te engolfo
(enquanto fecho a minha ostra e em breu te envolvo)
favoreço-te com água e luz intensas:
companheira de Zeus, mãe de Afrodite,
eis porque luzente e lúcida sou dita –
afrodisíaca.
Dos folguedos do amor, mestre anciã,
conheço-lhe décor toda a ciência: passei-a
por herança a Vênus. Flechas de neto meu são os
espinhos – as cerdas com então te brindo
enquanto deslizas prazeiroso pelos líquidos
que fabrico para a nossa mútua orgia
- a fim de que ali leias
a festa, os sortilégios.
Ah, doces percursos, trilhas de açúcar,
redemoinhos, limos, línguas, gatilhos,
sugadores, garras, nervuras, cera -
manteiga!
Te conduzo viscoso à voragem,
ao fundo do despenhadeiro
ao incomensurável –
à morte,
a mais sublime,
porque fruída em ais de orgasmo e deleite.