inoperantes versos
pendendo
dos braços
das mãos
dos dedos
da operária
falanges
que operam esta coisa
aqui
e
outras coisas
tantas
que nem pensa
que opera
enquanto faz
só faz
pés nos
sofás
cansados de dias
pernas moventes
que seguem operando
até
quando pousam
numa certa almofada
tremulam
exibindo
ansiedades
membros
pensam
sobre
o fim
do
dia.
qual dia?
qual fim?
qual meio?
estamos sempre no meio
nos presentes
pré
e
pós
operatórios
o braço cansa,
a nuca também
a forma desinforma
e
cai
em gesto seco
o gesto poderia ser simples,
um só:
escrever
do lado de lá
há desejo imenso e vário
enquanto pensa nos desejos,
a operária opera
paga contas
faz café
corrige redações
responde e-mails
renasce
caminha
rega as plantas
toma o café
varre a casa
paga sustos
faz amor
corrige atenções
responde espelhos
refaz-se
dança
rega as esperas
toma o amor
varre as preocupações