O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.
O blogue tem a proposta de divulgar e valorizar a poesia universal sempre com ilustrações que procuram enaltecer a beleza feminina e respeitando sempre os autores das obras aqui postadas. "O único jeito de suportar a existência é mergulhar na literatura como numa orgia perpétua". ( Gustave Flaubert )
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30/06/2025
29/06/2025
Célia Moura, in "No hálito de Afrodite"
Bebo-te às golfadas
28/06/2025
MAR ( Sophia de Mello Breyner Andresen )
I
MULHER - ASCENDENTE ( Marília Miranda Lopes )
Urge o teu retorno, mulher-criatura
Do princípio das eras, do âmago.
Urge a tua liberdade, a tua voz
Abafada pelos ditadores do mundo.
Urge tempo consagrado a ti mesma,
Mulher criadora de marés e ventos,
Espírito galáctico de amor,
Na sua dança circular, maior
Do que os limites de qualquer sistema.
Urge o teu regresso, ó mulher-poema
Vinda dos campos, vinda do espaço,
Proferindo versos não programados
Contra a hipocrisia de quem corrompe
A liberdade, a justiça, o respeito.
Urge a sinapse, o salto, a catapulta,
A transformação desta vida bruta:
Acordar não pode ser um martírio
Transmitido em direto nos aquários.
Urge o teu Verbo, só reverberado
Num regaço de mãe, após o parto.
Assim, enquanto não gritas, o teu nome
Vai constando nos autos, nos jornais,
Nas redes pesqueiras de vãos perfis:
“Vítima de homicídio”, de violência,
Morta na estrada, em casa, em decadência.
Assim, enquanto em ti dormir a Deusa,
O desnorte é um quotidiano demente
na bruma que trazes ainda suspensa.
Desse nevoeiro secular, novos genes
Trazem links de vitória e de mudança
Que dentro do teu ventre esperam vez:
Que nasçam Pioneiras e não Primevas,
Que sejam mais Elas e não as Evas
Pecadoras, culpadas e então expulsas
Dos paraísos que havia dentro delas.
A cada mulher cabe uma cambiante:
Água que lhe lave o curso da história,
O curso da mente, o semblante pesado,
Água de rosa que no rosto avive
A curva expressiva e rubra, ascendente.
POEMA DE VICTORIANAS ( Marília Miranda Lopes )
Elas escreviam à máquina na minha cabeça
POEMA DE HELENA LANARI ( Sophia de Mello Breyner Andresen )
Gosto de ouvir o português do Brasil
27/06/2025
Por Estela Fiorin
Ele apertou minha bunda
ALGUMA DÚVIDA? ( Cibele Camargo )
Finalmente ... O vinho !
INOCÊNCIA ( Cibele Camargo )
O veredicto ?
AZUL (Cibele Camargo, in "A Vida Além da Sua)
Mistura-se em mim
LIMITE ( Edgardo Xavier, in "Corpo de Abrigo" )
Salga-me a boca
26/06/2025
NÃO QUERO TER VOCÊ ( Rupi Kaur )
24/06/2025
GAZELA DO AMOR IMPREVISTO ( Frederico García Lorca )
Ninguém compreendia o aroma
I (Mayra Oyuela )
Toda nudez é medíocre se se está só,
23/06/2025
TODO O MEU DESEJO ( Rosalía Rodríguez Pombo )
Um espaço livre. Preencho-o de palavras. Piscadas. Chuva. Filmes.
Onde estás? Não te vejo.
22/06/2025
ARREITADA DONZELA EM FOFO LEITO (Manuel Maria Barbosa du Bocage)
Arreitada donzela em fofo leito
20/06/2025
PROTUBERÂNCIA ( Ana Cristina Cesar)
Este sorriso que muitos chamam de boca
INSCRIÇÃO ESTIVAL( David Mourão Ferreira )
Ó grande plenitude!
FLORBELA EM CANTO ( Renata Bomfim )
Para a Soror Saudade
No claustro, o silêncio ensurdece.
Fado? A alma resiste e canta.
Da mouraria chegam ecos de vozes distantes.
Torres de marfim e vitrais formam
paços adornados com lágrimas e cristais,
gotas brilhantes que correm pela face das monjas
e são, caprichosamente, colhidas
pelas mulheres e por homens que versejam em Portugal.
Ouço dizer de Princesas ornadas.
De virgens pálidas e febris
refletidas em vitrais espetaculares.
Seus sexos são cobertos por violetas maceradas
que perfumam e inebriam os pensamentos,
desviando os caminhos de quem passa.
Seus sonhos sensuais aquecem o frio das celas de ouro.
A simplicidade de seus gestos contrasta com
o tesouro: pérolas e jades que saem de suas bocas
rosadas.
- Oh! Roseirais e lírios que perfumam os campos!
- Oh! Árvores que guardam os ninhos dos rouxinóis,
levem este canto, espalhem este odor e retornem plenos.
Tudo o que vejo é santo, é vivo, causa espanto:
O universo, o caos, a beleza...
- Astros dispersos iluminam verbos e letras e inquietam
amantes que nunca se tocaram, e despertam na
ADÃO E EVA (José Régio )
Olhámo-nos um dia,
VIVA O AMOR ( Renata Bomfim )
E em que furor sagrado
celebremos o amor!
amo-te, sim,
e não é de hoje.
amor insólito,
estrambótico,
enviesado, esse meu.
ele faz com que eu veja coisas
que não existem,
imagine realidades loucas.
amor doente.
(sim, o amor pode ter febres),
amor ardente,
as vezes al dente,
pois, te devoro
até não sobrar haveres.
amor estropiado
pirado, maltratado,
as vezes, o último na lista.
mas, não culpemos o amor
viva o amor de casca fina,
verde e azedinho como um kiwi.
viva o amor cantado em verso e prosa
que adoça a minha boca
e amarga da garganta aos rins.
viva o amor!
viva, viva,
sempre!
EUS (Renata Bomfim )
Meus duplos
querem tudo!
O doce e o azedo
devorada
reduzida.
Eus de mim que não
se entendem e se deixam possuir.
Camadas de peles nuas
peles por sobre os pêlos
suores e agonias.
Saudades da unidade perdida
Eu, ovo,
Ova
guardada no saco
do escroto,
balizada n'água da bacia,
purificada
dos pecados dos outros!
O PRAZER DE SALOMÉ ( Renata Bomfim )
Ao poeta Antônio Miranda
A pureza, que coisa mais obscena!
Depois de dançar
Ao som da lira negra,
A réptil inviolada
Fez amor pela primeira vez.
Seu corpo era todo um jardim
Recém- nascido da paleta de Moreau.
Dos seus seios fatais brotavam
Safiras, ágatas, pérolas e rubis.
Salomé trazia no sangue a fúria
De Herodíade,
E a morte nos olhos de prata.
Naquela noite
Feita de angústias estéreis
(e solitárias),
Dois homens perderam
A cabeça.
SANHAS DE DEUSAS ( Nazaré Machado )
Quero ser tua
SITIADA ( Carmen Borda )
por milhares de palavras
que rondam minha cama
meu quarto
minha casa
me espreitam
com milhares de olhos brilhantes
no meio da noite
se alinham escrevendo poemas
tentando conquistar-me
mas sei
que me aprisionam
com suaves correntes
impossíveis de romper
e pelas noites
acorrentada
me arrosto até a janela
e comprovo
que desde o infinito
também
despencam palavras