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20/06/2025

FLORBELA EM CANTO ( Renata Bomfim )

Para a Soror Saudade 

No claustro, o silêncio ensurdece.

Fado? A alma resiste e canta.

Da mouraria chegam ecos de vozes distantes.

Torres de marfim e vitrais formam

paços adornados com lágrimas e cristais,

gotas brilhantes que correm pela face das monjas

e são, caprichosamente, colhidas

pelas mulheres e por homens que versejam em Portugal.

 

Ouço dizer de Princesas ornadas.

De virgens pálidas e febris

refletidas em vitrais espetaculares.

Seus sexos são cobertos por violetas maceradas

que perfumam e inebriam os pensamentos,

desviando os caminhos de quem passa.

 

Seus sonhos sensuais aquecem o frio das celas de ouro.

A simplicidade de seus gestos contrasta com

o tesouro: pérolas e jades que saem de suas bocas

rosadas.

- Oh! Roseirais e lírios que perfumam os campos!

- Oh! Árvores que guardam os ninhos dos rouxinóis,

levem este canto, espalhem este odor e retornem plenos.

Tudo o que vejo é santo, é vivo, causa espanto:

O universo, o caos, a beleza...

- Astros dispersos iluminam verbos e letras e inquietam

amantes que nunca se tocaram, e despertam na

memória
imagens que insistem em ir para além de mim.