Ao poeta Antônio Miranda
A pureza, que coisa mais obscena!
Depois de dançar
Ao som da lira negra,
A réptil inviolada
Fez amor pela primeira vez.
Seu corpo era todo um jardim
Recém- nascido da paleta de Moreau.
Dos seus seios fatais brotavam
Safiras, ágatas, pérolas e rubis.
Salomé trazia no sangue a fúria
De Herodíade,
E a morte nos olhos de prata.
Naquela noite
Feita de angústias estéreis
(e solitárias),
Dois homens perderam
A cabeça.