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28/06/2025

POEMA DE VICTORIANAS ( Marília Miranda Lopes )

 Elas escreviam à máquina na minha cabeça

A meio da noite, acordava com teclados
martelares contínuos. que quereis, perguntava
Não me diziam. amuavam nos seus olhos baixos
Transportavam-me na melodia mecânica dos corpos
Seria percussão no que insistiam? porque não me
deixavam
no sono?
Victorianas, queriam bicicletas, deixar desmaios
romper urbes
firmar gaivotas.

Hoje escrevo com o arquivo delas na garganta
Não me engasgo com enciclopédias de enxovais
Regurgito as formas que me trazem vagabunda na
estrada
no romper de caminhos
Imberbe de pranto, ensurdeço. que mudas vós gritais
Que sempre fechados genitais
ao corpo deles, inquietos.

Brame a flâmula. sou de vidro ainda cedo. as tardes
são cálidas nuvens chovendo cíclicas inspirações
Transpiro. vindes calar-me, agora sei: calar com o som
determinado a auscultar
o meu próprio batimento
Tremulamente me levanto da cama
onde pousam combinações de outrora
Rendadas me trazeis nas mãos. sinto-as na boca fechada
O meu silêncio é a vossa chama. um não dizer que bateis
sobre a secretária antiga.