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28/06/2025

MULHER - ASCENDENTE ( Marília Miranda Lopes )

 Urge o teu retorno, mulher-criatura

Do princípio das eras, do âmago.
Urge a tua liberdade, a tua voz
Abafada pelos ditadores do mundo.

Urge tempo consagrado a ti mesma,
Mulher criadora de marés e ventos,
Espírito galáctico de amor,
Na sua dança circular, maior
Do que os limites de qualquer sistema.

Urge o teu regresso, ó mulher-poema
Vinda dos campos, vinda do espaço,
Proferindo versos não programados
Contra a hipocrisia de quem corrompe
A liberdade, a justiça, o respeito.

Urge a sinapse, o salto, a catapulta,
A transformação desta vida bruta:
Acordar não pode ser um martírio
Transmitido em direto nos aquários.

Urge o teu Verbo, só reverberado
Num regaço de mãe, após o parto.

Assim, enquanto não gritas, o teu nome
Vai constando nos autos, nos jornais,
Nas redes pesqueiras de vãos perfis:
“Vítima de homicídio”, de violência,
Morta na estrada, em casa, em decadência.

Assim, enquanto em ti dormir a Deusa,
O desnorte é um quotidiano demente
na bruma que trazes ainda suspensa.

Desse nevoeiro secular, novos genes
Trazem links de vitória e de mudança
Que dentro do teu ventre esperam vez:

Que nasçam Pioneiras e não Primevas,
Que sejam mais Elas e não as Evas
Pecadoras, culpadas e então expulsas
Dos paraísos que havia dentro delas.

A cada mulher cabe uma cambiante:
Água que lhe lave o curso da história,
O curso da mente, o semblante pesado,
Água de rosa que no rosto avive
A curva expressiva e rubra, ascendente.