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01/06/2025

SINESTESIA I ( Rita Santana )

 “Enlouqueci, um girassol nasceu em minha boca!”

Affonso Manta

Ainda é Estio em minhas manhãs!

Luas nascem cobertas de mistério.
Esmero-me na palidez do Homem Amarelo,
Investigo a natureza da Estudante Russa.
E colho algodões de Anita Malfatti.
Debruça-se sobre mim a Vertigem do mundo.
Vetustos já não alimentam meus sonhos.
É cálido o Amanhã!

Vivo de contemplações do trigo, dos aromas,
Saboreio maçãs, mordo morangos
E chupo – com voracidade – pinhas.
Tudo é gozo! Tudo é revelação do Mistério!
Aprofundo-me em especulações estéticas!
Fundo é o amor impresso nas canções do Brasil.

Ouço a ópera da paisagem:
O verde me penetra,
A imensidão já é o meu sistema linfático.
Na revelação dos pássaros,
Tudo em mim é intensidade!

Há ênfase e voragem em minhas mãos,
Na apreensão obstinada do Todo.
Perceber é uma prece.
Planto flores na varanda,
Apenas para testemunhar a natividade da Beleza,
O Recolhimento da Calêndula!
Fui atingida pela sinestesia diante da vida,
E, por isso, sobrevivo à Solidão
E faço dela minha Companheira na Existência.

Mais que tudo: preciso da Solidão para os meus abismos!
E já nem sei o que é estar Só:
Tenho sabido sobre mim e sobre minhas ânsias.
Realizo desejos miúdos.

Contemplo mais as nuvens!
Aproximo-me dos sabores, dos cupuaçus,
Apenas pela proximidade com os mistérios.
Ando ávida da visão! Ando bêbeda dos dias!
Já não me bastam as palavras:
Preciso plantá-las, sabê-las!
Há aquarelas em mim
E infinitos atravessam meu corpo.

Rompi o pacto com a infelicidade!
Só faço avenças com o riso e o prazer!
Vivo do hedonismo.
Há uma via-láctea em minhas camadas,
Meus poros são partes do infinito.
Os astros me habitam e explodem diariamente em minhas veias.
Sinto em mim o minério e a vegetação do Espaço!
Clívias tomam meus ovários e já invadem as trompas.