
Tuas mãos, teu quase
Ser mulher, ser eu,
Me conhecer
Pelos caminhos inventados,
Percursos deste corpo,
Um mergulho cego,
Impreciso nascer
Que brota intuitivo.
As mãos que são tuas
Não podem me tocar,
Não conhecem em tato
A espessura mais íntima
De minha pele.
Em tua fantasia
- que já não sei se é tão tua,
Ou bem mais minha
Me dissolvo, me afogo,
Sempre em mim
Pelos teus olhos,
Me esvazio dos líquidos
Que escorrem,
dou-te o mel que necessitas.
Te alimento, profana
E tu também me alimentas
Mas são minhas as mãos
Que me tocam
E é também minha
A boca que está ao alcance
De beber, beber de mim
Do meu sangue, das minhas águas,
do meu interior, deste meu gozo.
Coisa que pulsa e anseia
o toque físico da
realidade de todas as
coisas.
O que é este conto nosso,
amor meu?
Coisa sustentável,
interior porque é para dentro
irreal porque corrompe
o ritmo banal do lado de fora,
do correr da vida.
Tudo é confuso nessa fusão
entre imaginação e realidade.
Quisera amar-te menos.
Mas este amor que cresce
Nutre-se e fortalece-se
com o passar dos dias.
Cuida-te, amor meu!
Nosso tempo é um
quase não-tempo,
Quem medirá este romper
de todas as coisas
que não se abrandam
para não morrer?
