Jardins plantados em frente dos hospitais são diferentes
Germinam como pedaços de vida a florir nas janelas
Renascidos
Com quatro escadarias de tijolo largas ao redor
Ocres e esbatidas por muitos pés de gente doente
Moribunda
A passear de pijama por entre sebes e amores-perfeitos
Nos canteiros
Jardins plantados em frente dos hospitais
Têm alamedas cheias de acácias
Amarelas
Fora e dentro de portas
E cobrem pérgulas escondidas
De bancos de pedra sombrios com velhas solitárias sentadas
A tricotar memórias
De crochê
No meio de arbustos e cartas esmagadas pelo chão
Como folhas de Outono mal escritas e esquecidas
Jardins plantados em frente dos hospitais
São como templos de luz
Com muitas almas verdes internadas
Em chamas
Junto a um lago em forma de rosa-dos-ventos
Para respirar melhor
Nos jardins plantados em frente dos hospitais
moram tiranos e sábios bíblicos
Operários analfabetos e salvadores de bata branca
E ouve-se o som de cavaleiros templários
Com rodas
Com uma cruz ao peito e uma sirene nas mãos
A ressuscitar pessoas em volantes
Nos jardins em frente dos hospitais
Escutou-se a tua morte numa tarde de Agosto
Quente.